Como predizer vaso-epididimostomia em reversão de vasectomia?

A cirurgia de reversão de vasectomia é um procedimento extremamente delicado capaz de restabelecer o fluxo de espermatozoides através do ducto deferente. A vasoepididimostomia (vaso-epi) é um tipo de conexão de sistema indicado quando há um entupimento próximo à saída de espermatozoides do testículo e uma simples reconexão do ducto deferente que foi cortado não irá resolver o problema. Como o nome indica, é feita uma conexão do vaso deferente diretamente com o epidídimo, que é um estrutura formado por túbulo incrivelmente finos. Esse procedimento requer material cirúrgicos, fios de sutura e microscópio adaptados e de alta qualidade.

Como a vaso-epi é um procedimento tecnicamente desafiador e geralmente necessita de um andrologista ou urologista com experiência em microcirurgia, é interessante tentar estimar as chances de uma vaso-epi ser necessária em pelo menos um dos lados antes de cada procedimento para uma melhor programação cirúrgica e obtenção dos melhores resultados possíveis.

O fator mais amplamente considerado nessa equação é o tempo desde a vasectomia. Estima-se que a cada ano há um incremento de chance em 3% na probabilidade de vaso-epi em pelo menos um lado, estabilizando em torno de 70% no período de 24-38 anos desde a vasectomia. Casos que já foram submetidos a alguma tentativa de reversão de vasectomia no passado tem uma chance quase 6 vezes maior de necessitar de vaso-epiem uma nova cirurgia.Outra possibilidade de estimar a necessidade da vaso-epi é realizar o seguinte cálculo: (idade do paciente × 0,31) + (tempo desde a vasectomia× 0,94). Caso o valor desta conta seja igual ou superior a 20, então vaso-epi em pelo menos um dos lados é esperada.

Clinicamente a presença de hidrocele, que é o acumulo de liquido ao redor do testículo, também aumenta as chances de vaso-epi. A hidrocele pode representar um obstrução dos vasos linfáticos que geram esse aumento de fluido, a qual está estatisticamente associada a obstrução epididimária. Apesar de exames de imagem não serem indicados de rotina, há estudos quedemonstraram que aumento da intensidade no epidídimo em exames de ressonância nuclear magnética são sugestivos de obstrução epididimária e pode em ultima análise predizer a necessidade de vaso-epi. 

Há ainda fatores de bom prognóstico que diminuem as chances  de esse procedimento mais complexo estar indicado. O mais clássico é a presença de granuloma. Após a vasectomia pode haver um vazamento de espermatozoidespelo coto de deferente mais próximo do testículo. Os espermatozoides no tecido geram uma reação inflamatória e formam um nódulo palpável no escroto. Apresença de granuloma indica que houve um certo “vazamento”, o que contribui para diminuir a pressão dentro do sistema e ajuda a manter os túbulos do epidídimocom seu funcionamento normal. O achado de granulomas durante a palpação do escroto está ainda associado com uma melhor quantidade e qualidade de espermatozoides encontrados no fluido que vem do deferente durante a cirurgia.

A real capacidade de prever um procedimento mais complexo é fundamental otimização dos resultados. Essa estimativa pode ajudar o cirurgião a fazer adaptações necessárias em termo de infraestrutura e material para realização da vaso-epi, bem como para fornecer um aconselhamento mais acurado das taxas de sucesso para o casal.

Eduardo de Paula Miranda - Doctoralia.com.br